Até agora, a presença da Lua tem sido vista como crucial na criação e manutenção de um ambiente adequado para a evolução da vida na Terra. No entanto, um novo estudo revela que nosso planeta não depende tanto da Lua quanto se pensava.
Em 1993, o astrônomo francês Jacques Laskar publicou uma série de cálculos que indicam que a gravidade da Lua é vital para estabilizar a inclinação do nosso planeta. Para ele, a obliquidade da Terra, como essa inclinação é tecnicamente conhecida, teria enorme influência no clima, pois faria a Terra “bambolear” ao longo de centenas de milhares de anos, produzindo um clima extremamente variável para o desenvolvimento de vida complexa.
Em seus trabalhos, Laskar afirmava que deveríamos nos sentir com muita sorte por ter uma lua tão grande à nossa volta, já que sua presença age com uma espécie de estabilizador, fixando o eixo de inclinação da Terra e consequentemente impedindo seu bamboleio caótico.
Marte tem dois satélites naturais, Phobos e Deimos, mas são tão pequenos que não conseguem estabilizar o planeta. Assim, a inclinação de Marte oscila caoticamente em escalas de tempo de milhões de anos, com variações que podem chegar a 45 graus.
Desta forma, a hipotética colisão entre a Terra e um protoplaneta do tamanho de Marte, ocorrida há mais de 4.5 bilhões de anos pode ser considerada como um verdadeiro golpe de sorte, pois sem ela não teríamos nossa Lua estabilizadora.
Novos Estudos
Tudo parecia bem com a hipótese de Laskar até que um novo e surpreendente estudo foi divulgado.
Tudo parecia bem com a hipótese de Laskar até que um novo e surpreendente estudo foi divulgado.
Em 2011, o trio de cientistas Jack Lissauer, do Ames Research Center, da Nasa, Jason Barnes, da Universidade de Idaho e John Chambers da Instituição Carnegie fizeram novas simulações e descobriram que a obliquidade da Terra seria a praticamente a mesma sem a presença da Lua.
“Nós estávamos simulando como a obliquidade pode variar para todos os tipos de sistemas planetários e para testar nosso código começamos com integrações na obliquidade de Marte e encontramos resultados semelhantes a outros estudos”, disse Lissauer. “No entanto, quando fizemos cálculos com a obliquidade da Terra encontramos variações muito menores do que o esperado, longe de serem tão extremas como os cálculos anteriores sugeriam”.
A equipe de Lissauer descobriu que sem a Lua, o eixo de rotação da Terra só iria oscilar em 10 graus a mais do que o ângulo atual de 23,5 graus.
Para a equipe, a razão para tais resultados muito diferentes dos alcançados por Jacques Laskar é simplesmente o atual poder de computação. De acordo com Lissauer, os supercomputadores de hoje são muito mais rápidos e capazes de modelagem muito mais precisa do que os computadores da década de 1990.
Além da diferença na variação do ângulo de inclinação, Lissauer e seus colegas também descobriram que se a Terra estivesse girando mais rápido, com um dia de duração inferior a 10 horas, ou retrógrada de rotação (ou seja, para trás, de modo que o sol nascesse no oeste), a Terra se estabilizaria graças às ressonâncias gravitacionais com outros planetas, mais notavelmente com gigante Júpiter e não haveria necessidade alguma de uma grande lua.O resultado das descobertas de Lissauer é que a presença de uma lua não é fundamental e um planeta terrestre pode existir sem uma grande lua e ainda assim manter a sua habitabilidade.
“Acho que é um estudo muito bem feito”, disse Rory Barnes, ligado à Universidade de Washington e que também estuda o problema da obliquidade dos planetas. “O estudo mostra que a Terra não precisa de uma Lua para ter um clima relativamente estável. Eu não acho que haveria quaisquer consequências terríveis se não tivéssemos uma”.
Além da obliquidade, a Lua tem contribuição em outros fatores importantes para a vida, como por exemplo, a formação de piscinas de maré, que podem ter sido o ponto de origem da vida na Terra. No entanto, o Sol também influencia as marés, por isso a falta de uma grande lua não é necessariamente um obstáculo.
Alguns animais também evoluíram com base no ciclo da Lua, mas isso é, segundo Lissauer, mais isso parece mais um acaso do que um componente essencial para a vida.
Autor: Rodrigo Romo
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